A praga da leitura obrigatória!

Eu estava dando uma olhada no site da revista Época hoje e li um texto bem bacana do Danilo Venticinque, ele me fez lembrar da época do meu vestibular, que foi uma fase da minha vida que eu considero um pesadelo. Ano de vestibular, aula do terceiro ano, aula do cursinho... dia inteiro fora de casa e ainda tem as leituras obrigatórias do vestibular. Admito que eu peguei um trauma imenso de todos os clássicos brasileiros exatamente por isso... ler de maneira forçada é completamente desagradável. Mas vamos ao texto!
Quer convencer alguém a abandonar um hábito prazeroso? Basta transformá-lo em obrigação. Nos esportes, é comum ver amadores talentosos abandonando seus sonhos ao deparar com a rotina árdua necessária para competir profissionalmente. No mundo da cultura ocorre algo semelhante. Conheci aspirantes a críticos de cinema que passaram a detestar filmes após experimentar a rotina de assistir a cinco ou seis estreias desinteressantes semanalmente. Talvez isso explique nossa obsessão por games estúpidos e redes sociais: como ninguém nos obriga a passar horas jogando Candy Crush ou navegando no Facebook, podemos gastar nosso tempo assim por puro prazer. Se fôssemos forçados a isso, provavelmente buscaríamos refúgio noutras atividades, como resolver o cubo mágico, elaborar uma tese de doutorado ou descobrir a cura do câncer. Talvez até lêssemos mais livros, se não houvesse tanta gente tentando transformar a leitura numa obrigação.
PS: se os professores não cobrassem tanto a presença na faculdade, provavelmente eu iria mais... sempre fico no limite de faltas só de implicância. Coisa feia eu sei, mas estou sendo sincera. hahaha
O assunto é delicado, sobretudo no que diz respeito às escolas. As leituras obrigatórias têm uma importância pedagógica enorme. Os alunos precisam aprender literatura e interpretação de textos na escola, e ler é sem dúvida a melhor maneira de fazê-lo. Dito isso, não é difícil perceber que obrigar um aluno a ler um livro e fazer uma prova sobre ele é uma péssima maneira de incentivar a leitura. Muitos desistem dos livros após a formatura. Outros até voltam a ler, mas deixam de lado os autores que a escola lhes forçou goela abaixo. É raro ver um adulto lendo Machado de Assis, por exemplo. A ironia refinada de um dos maiores escritores da história do país é desperdiçada em adolescentes que leem resumos de seus livros, decoram nomes de personagens, respondem a perguntas de vestibular e, depois, esquecem-se dele para sempre. O lirismo de Manuel Bandeira torna-se uma chatice insuportável quando somos obrigados a nos comover com ele. Até o humor de Macunaíma perde toda a graça.
Felizmente há jovens que sobrevivem a esse teste e tornam-se leitores. Alguns conseguem enxergar a genialidade desses escritores, apesar da obrigação de ler suas obras. A maioria redescobre as livrarias graças a autores populares. J. K. Rowling, John Green, Paulo Coelho, Thalita Rebouças e dezenas de outros, cujos livros felizmente não entram na lista do vestibular e podem ser lidos apenas por diversão. 
Essa parte do texto eu senti que o Danilo estava falando diretamente sobre mim. Eu já lia antes do vestibular, admito que tinha lido pouquíssimos clássicos nacionais  e quando tive que ler um por semana por causa das aulas de redação/dos livros obrigatórios do vest ufes eu praticamente pirei. Para vocês terem uma ideia eu fiquei mais de 2 anos após o vestibular sem ler praticamente nada, se li 2 livros nesse tempo foram muitos. Então a Thalita me indicou a série Hush Hush, eu resolvi ler e todo amor voltou... Mas é aquela coisa: leio com maior amor, mas se me mandarem ler um livro do Machado De Assis por exemplo, provavelmente vou fazer cara feia!
Mesmo assim, a leitura obrigatória continua nos assombrando fora das escolas. A obrigação pedagógica muitas vezes dá lugar à obrigação social. Descuide por um instante numa conversa entre leitores e aparecerá alguém para tentar convencê-lo de que determinado livro é absolutamente indispensável e ninguém pode deixar de lê-lo. Uns acham que é inadmissível não ler o best-seller da moda. Outros não aceitam o fato de você não se interessar por um grande clássico da história da literatura. E há situações ainda mais absurdas. Um dia desses fui chamado de ignorante por dizer que não gostaria de ler a biografia não autorizada de Caetano Veloso – um livro que nem existe.
 Outro ponto que eu chamo de irritante! Você está super animado em uma conversa com alguém, fala que adora Jogos Vorazes, Divergente, Harry Potter, A seleção... enfim, livros Young Adult e então o leitor com quem você está conversando fala que você só lê modinha, ou que você devia ler outro gênero, porque Young adult é um gênero fraco... e então nesse momento, eu não sei vocês, mas eu perco a paciência. Principalmente com os pseudo cult, que acham que são pessoas super cultas... só porque leram meia dúzia de livros clássicos, OU só pelo fato de não terem lido os livros conhecidos. Galera, prestem atenção... se um autor ficou famoso e seus livros viraram "modinha" é porque atingiram em cheio o público alvo e mereceram o sucesso! Parem com essa história de menosprezar livros por serem modinhas.
A crítica não está imune a essa postura. Pelo contrário. Volta e meia vejo algum colega jornalista escrever, numa resenha, que esse livro ou aquele outro é “indispensável”. Dispenso a resenha na hora. Procuro outra razão para ler o livro ou outro livro para ler.
Houve um tempo em que eu era cordial quando alguém me dizia que eu tinha a obrigação de ler algo. Eu respondia que iria atrás do livro e o colocaria na minha fila de leituras. Hoje sou mais sincero: “Desculpe, mas se eu dedicar meu tempo a todas as leituras indispensáveis, não sobrará um minuto para os livros que eu quero ler.”
É difícil não se deixar intimidar pela imensidão da literatura. Mesmo se fizermos uma lista dos clássicos indiscutíveis, é improvável que sejamos capazes de ler tudo em apenas uma vida. Nosso único consolo é nos reservar o direito de escolher o que ler, buscar o prazer na leitura e aceitar as inevitáveis lacunas na nossa formação literária. Tenho um amigo de vinte e poucos anos que leu Em busca do tempo perdido mais de uma vez, mas não sabia quem era Conan, o bárbaro. Outro amigo divide seu tempo entre grandes obras da literatura, histórias em quadrinhos e livros sobre zumbis. São dois excelentes leitores, com suas falhas e idiossincrasias. Nenhum tem motivo para se envergonhar. 
Num dos trechos mais divertidos de seu livro Paris é uma festa, Ernest Hemingway narra uma conversa com o poeta e crítico literário Ezra Pound sobre literatura russa. Ou melhor: uma tentativa de conversa. Hemingway pergunta a Pound o que ele acha de Dostoiévski. A resposta de Pound, um dos homens mais eruditos de seu tempo, é uma surpresa e um álibi para todos nós. “Para te dizer a verdade, eu nunca li os russos.” Se Pound pode esnobar Dostoiévski, até o mais relapso dos leitores está perdoado. Não existe livro indispensável. Cada um está livre para ler o que quiser.
Sobre essas partes finais, sem comentários. Essas frases que eu destaquei definem exatamente o que eu penso. Concordam com o texto? Discordam? Comentem !! :D  

12 comentários:

  1. Oie Paula =)

    Eu também odeio essa história de ter que ler algo por obrigação. Sei lá parece que a leitura não rende se vc acaba muitas vezes odiando um livro bom, só por que foi obrigada a ler ele na hora errada =/

    Ótimo post!

    Beijos;***
    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...

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    1. Eu realmente acho que se tivesse lido esses clássicos nacionais, que hoje eu não quero nem ver na minha frente, com calma eu gostaria! Mas não aguento nem olhar para eles, mandei tudo para a casa da minha mãe! haha

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  2. Hey!

    Nossa, eu estou no ano do vestibular! Minha sorte é que os vestibulares aqui do Rio não pedem leituras para a prova, porque também tenho problemas sérios com esses livros! Mas só por ser obrigada mesmo, porque se eu resolvo ler depois, por conta própria, eu curto a leitura como qualquer outra! Não suporto as pessoas falando que lemos modinhas! Cara, eu leio de tudo, mas obvio que se um livro é muito comentado por ai as chances de eu ouvir falar dele sao bem maiores né? Ai, amei seu post, super me identifiquei!

    Um beijo
    http://escolhasliterarias.blogspot.com.br/

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    1. Olha, que sorte hem?!
      Eu tinha que ler um livro por semana e resenhar/fazer artigo... enfim fazer um texto na escola.
      FORA FORA FORA.... as leituras obrigatórias do vestibular!
      Foi um ano de cão viu! hahaha

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  3. Oie,
    acho que ninguém deveria ser julgado pelo gosto literário. Não é só porque eu não curto Stefan King por exemplo que só leio livros ruins.

    Ser obrigado a ler um livro já o torna um pouco chato, e isso é ruim, o Brasil só tem a perder com isso. Já que desanima as pessoas que não costumam ler e acabam com o país.

    bjos

    http://blog.vanessasueroz.com.br

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  4. Olá!
    Confesso que fui lendo o artigo e concordando com a cabeça em grande parte dele. Acho INSUPORTÁVEL pessoas pseudo-cults que querem dizer o que tenho que ler e o que não. E principalmente aqueles que julgam o meu gosto de leitura (independete se for porque gosto de vampiros, ou por causa dos hots). As pessoas tem certa dificuldade em entender que cada um tem seu gosto GRAÇAS A DEUS, e por isso existe grande diversidade na literatura hoje em dia. Realmente esse artigo todo falou por mim, adorei do início ao fim.
    E concordo totalmente que qualquer coisa (qualquer mesmo) que tenhamos que fazer obrigatóriamente torna-se tediosa.
    Adorei o post, de verdade.

    Beijos
    Jéssica
    http://www.bestherapy.net/

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    1. hahaha eu também quando li fiquei concordando com a cabeça, cheguei até a falar meio sozinha....
      " aham, isso mesmo! concordo"
      Por isso que tive que compartilhar no blog!

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  5. Oi :)
    Paula, concordo plenamente com tudo que você disse.
    Um artigo muito bem elaborado e super sincero. Fico para não viver quando o pessoal fala das minhas leituras. Que julgam porque eu leio muito Young adult. Cara, é um género muito show. Eu sou viciada! Outra coisa é sobre cinquenta tons de cinza kkkk as vezes eu sou crucificada por gostar do livro, por dar minha opinião sobre ele. Agora ninguém vê que depois do lançamento de cinquenta tons, o que mais surgiu foi livros com essa temática, todo mundo lê Silvia Day, Sasha Grey kkkkk É muito preconceito no mundo literário. Mas enfim, acho que não se deve julgar ninguém pelo que se lê.
    Beijos

    http://elaeseuslivros.blogspot.com.br ♥

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    1. hahahaha eu me amarro em um young adult também! Admito que deveria ler mais outros tipos de livros, mas são sempre eles que chamam minha atenção inicialmente!
      50 tons eu admito que não gostei, mas cada um lê o que lhe dá prazer né?
      Acho que é esse o objetivo! Não adianta em nada ler um clássico se não sente prazer em fazer isso!

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  6. Sempre achei que nos obrigar a ler livros no colégio não era uma boa maneira de incentivar a leitura. Além da obrigação, acredito que apreciamos os clássicos quando mais velhos, após termos experiência com as leituras mais leves. Algumas pessoas, aquelas que já costumavam ler antes do vestibular, teriam alguma vantagem, mas aposto que muitas leram seu primeiro livro no ensino médio, quando o professor de literatura indicou a primeira leitura para o vestibular. E, se não fosse pela obrigação de ler, poderíamos até mesmo apreciar esses livros. Concordo com tudo o que disse, até mesmo com a lista de chamada (todo começo de semestre eu faço as contas de em quantas aulas poderei faltar; parece que a lista de chamada nos obriga a ir a aula para assiná-la, e não para assistir às aulas propriamente).

    Abraços!
    http://contosdemisterioeterror.blogspot.com.br/

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    1. A minha vantagem não foi muito grande viu! Quando você está acostumado a ler por prazer e vai ler por obrigação é uma tortura!!!

      E sobre a lista....
      Só li verdades! Só vou para marcar presença tbm! haha

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  7. Nossa, bem verdade isso. E adorei seu comentários a respeito. [rs]

    Abraço!
    http://constantesevariaveis.blogspot.com.br/

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